A NATUREZA E O MEIO FÍSICO EM NOVA VENÉCIA
A forma como o espaço geográfico se configura e reconfigura ao longo da história não é fruto apenas da forma como os seres humanos se relacionam entre si. Todo grupo social, todo povo, toda sociedade existe em uma determinada parte do planeta e ao longo de sua história teve que interagir com a natureza deste local.
Tal relação têm se mostrado, como a história o comprova, uma via de mão dupla: os seres humanos frequentemente transformam essa natureza, interferindo assim em seu equilíbrio dinâmico, mas tais características físico-naturais do local ou região onde esses seres humanos vivem também foram (e continuam a ser) condicionantes sobre sua própria trajetória histórica.
As peculiaridades do clima, dos solos, do relevo, da hidrografia etc. têm forte influência sobre a forma como os humanos vivem e como se organizam geograficamente. Ao longo do tempo, esses aspectos naturais tendem a se tornar elementos inerentes à própria cultura dos grupos humanos que ali vivem, haja vista, por exemplo, elas condicionarem seus hábitos e suas relações sociais (o clima, por exemplo, tende a influenciar desde agricultura e alimentação até o vestuário), favorecendo ou não o desenvolvimento de certas atividades econômicas e/ou certos costumes e hábitos.
Além disso, essas dinâmicas e peculiaridades físico-naturais podem tornar esse local mais ou menos suscetível aos impactos e desequilíbrios provocados pela urbanização, pelas práticas agrícolas etc.
Por tal razão, o entendimento básico acerca de algumas dessas dinâmicas e características naturais de um lugar ou região são fundamentais tanto para se compreender como esse trecho do espaço geográfico historicamente se configurou e tem se reconfigurado, mas também para se compreender os problemas ambientais fruto do desequilíbrio ecológico decorrente desses mesmos processos de reconfiguração do espaço geográfico.
Neste capítulo, portanto, abordaremos algumas dessas características físico-naturais que têm maior influência sobre os aspectos geográficos, com foco no recorte espacial do município de Nova Venécia e em seu entorno imediato, na região Noroeste. Os problemas ambientais decorrentes da interferência humana sobre esses sistemas naturais, entretanto, serão abordados de forma mais detalhada nos capítulos seguintes.
2.1. RELEVO E ASPECTOS GEOMORFOLÓGICOS
O território do Espírito Santo é composto basicamente por três tipos de unidades geomorfológicas, as quais denominaremos aqui de Patamares com Afloramentos Rochosos, Tabuleiros Costeiros (estrutura sedimentar) e Planícies Litorâneas e/ou Fluviais.

Os Patamares com Afloramentos Rochosos são estruturas cristalinas, ou seja, originadas diretamente da solidificação do magma. Apresentam altitudes mais elevadas que as demais unidades (as quais são mais acentuadas nos trechos desse domínio geomorfológico situados a sul do Rio Doce e mais modestas nos trechos ao norte desse curso d ‘água).
Em geral, são caracterizados por um relevo mais acidentado, com declividades mais acentuadas. Também são peculiares as ocorrências de afloramentos rochosos (geralmente granitos e gnaisses). São predominantes no Espírito Santo, em termos de extensão territorial.
Os Tabuleiros Costeiros são estruturas de origem sedimentar, formadas a partir de sedimentos resultantes de erosão e/ou intemperismo de rochas cristalinas que se depositam por ação fluvial nas partes originalmente mais baixas do terreno (quase sempre o fundo de antigos vales).
Trata-se uma estrutura geologicamente mais recente que os Patamares com Afloramentos Rochosos, a qual se originou do intemperismo e erosão de rochas cristalinas cujos sedimentos foram se depositando por meio da ação fluvial, principalmente. Geralmente apresentam declividades mais suaves e altitudes mais modestas que os Patamares com Afloramentos Rochosos, porém superiores às das Planícies Litorâneas e Fluviais. Ocupam uma parte considerável da porção norte do Espírito Santo.
As Planícies Litorâneas são formações sedimentares nas quais, ao longo das oscilações entre eras glaciais e interglaciais, parte dos sedimentos ali depositados pela ação fluvial foram retrabalhados pela ação marítima. Apresenta relevo predominantemente plano e com baixas altitudes (praticamente ao nível do mar ou muito próximo disso). Estão bastante restritas a áreas imediatamente próximas ao mar, se alongando para dentro do continente apenas em alguns trechos no litoral norte do Espírito Santo.
Já as planícies fluviais se encontram em trechos de fundos de vales, geralmente a jusante das bacias hidrográficas, e consistem em sedimentos que foram retrabalhados pela ação fluvial e, por vezes, marinha (já que em períodos interglaciais houve o adentramento das águas marítimas nos canais fluviais em virtude do aumento do nível dos oceanos).

O território de Nova Venécia é composto principalmente por Patamares com Afloramentos Rochosos, que são predominantes no trecho de seu território ao sul do Rio Cricaré, e Tabuleiros Costeiros, estruturas sedimentares que predominam nas áreas a norte desse curso d´água.
Os trechos do território de Nova Venécia situados ao sul do Rio Cricaré, portanto, apresentam as características inerentes aos Patamares com Afloramentos Rochosos: relevo mais acidentado, com declividades mais acentuadas e muitos afloramentos rochosos, como, por exemplo, a Pedra do Elefante, cartão postal e símbolo natural do município.
Suas altitudes, salvo nos casos pontuais dos afloramentos rochosos, são bem modestas quando comparadas com partes do sul do Espírito Santo que têm essa mesma estrutura geomorfológica (como a Região Serrana e o Caparaó), mas tendem a se mostrar ligeiramente mais elevadas que os trechos do território veneciano onde predominam os Tabuleiros Costeiros.
Os domínios dos Patamares com Afloramentos Rochosos abrangem praticamente toda a extensão do distrito de Cristalino, ao sul do município, parte de seu distrito da sede e praticamente todas as áreas fronteiriças a oeste e sudoeste, na divisa com os municípios de Barra de São Francisco, Águia Branca e São Gabriel da Palha.


Paisagem nos domínios dos Patamares com Afloramentos Rochosos. Fotografia: Danielhe Meireles
O trecho do território veneciano situado ao norte do Rio Cricaré, entretanto, tem predomínio dos Tabuleiros Costeiros, apresentando as características inerentes a essa estrutura sedimentar previamente descritas: relevo menos acidentado, com topografia levemente ondulada (declividades mais suaves) e sem presença de afloramentos rochosos.

Trecho situado ao norte do Rio Cricaré, nos domínios dos Tabuleiros Costeiros.
Áreas no entorno do Patrimônio da Penha (à esquerda) e do Assentamento Gaviãozinho à direita, ambos nos domínios dos Tabuleiros Costeiros.
Os tabuleiros costeiros, em Nova Venécia, estendem-se a norte e leste do distrito da sede, englobando praticamente todo o distrito de Patrimônio do XV e as áreas fronteiriças com o município de São Mateus.
Em Nova Venécia, as planícies fluviais estão praticamente restritas aos curtos trechos das margens do Rio São Mateus e de alguns afluentes, ocupando uma área ínfima do território municipal.
Fotografia do Rio Cotaxé, afluente do Rio São Mateus, visto na localidade do Oratório, Nova Venécia ES.
2.2. CLIMA
Quando nos referimos a clima, não estamos falando de um aspecto momentâneo das condições atmosféricas. Quando estamos a nos referir a tais condições momentâneas – “como está quente hoje” ou “o céu está com nuvens escuras e parece que vai chover” – estamos falando de tempo e não de clima.
O conceito de clima se refere à como as condições atmosféricas tendem a se comportar ao longo do ano, passando por diferentes estações, observando seus padrões de comportamento sazonal.
A latitude é o principal fator determinante sobre o clima. Ela seria, por assim dizer, o fator primário, ao qual vão se somar e interagir outros fatores como altitude, proximidade ou distância em relação ao mar ou grandes corpos hídricos, relevo, maior ou menor presença de vegetação etc.
Com base nesse aspecto primário, costuma-se discernir três grandes domínios climáticos no globo terrestre: tropical, temperado e polar. Todos eles, entretanto, apresentam subtipos, decorrentes da ação de outros fatores que influenciam o clima.
Fontes: 1. Atlas geográfico. 3. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 1986. 2 Disponível em: https://ibge.gov.br/images/atlas/mapas_mundo/mundo_clima_e_correntes_maritimas.pdf
O clima tropical ocorre nas áreas de baixa latitude, entre os trópicos de Capricórnio (ao sul) e Câncer (ao norte). É caracterizado por baixa amplitude térmica anual (pequena variação de temperatura ao longo ano, com estações pouco diferenciadas quanto a temperatura) e elevadas médias térmicas (em geral, as temperaturas são altas em praticamente todas as estações do ano). No Rio de Janeiro, por exemplo, Estado brasileiro situado inteiramente na faixa tropical, a diferença de temperatura média entre verão e inverno geralmente é inferior a 7 graus.
O clima temperado ocorre nas áreas que se situam entre os trópicos e os círculos polares, tanto no hemisfério sul quanto no hemisfério norte. É caracterizado por apresentar alta amplitude térmica anual com quatro estações bem definidas (primavera, verão, outono e inverno), com verões quentes e invernos bem frios. Em partes da Europa, como na Alemanha e Polônia, a discrepância de temperatura média entre verões e invernos pode facilmente chegar a mais de 30 graus, apresentando médias térmicas superiores a 30° no verão e temperaturas negativas no inverno.
O clima polar, por sua vez, ocorre nos extremos de latitude elevada, nos círculos polares ártico e antártico. Apesar da elevada amplitude térmica, com uma grande discrepância de temperatura entre verão e inverno, não chega a existir uma estação quente de fato, sendo um clima marcadamente frio. As temperaturas são extremamente baixas no inverno e um pouco menos extremas (quanto ao frio) no verão. Na Antártida, por exemplo, as temperaturas médias no inverno chegam a ser inferiores a 40 graus Celsius negativos, mas são apenas levemente negativas durante os verões.
O Brasil é um país cujo território situa-se quase totalmente na faixa de domínio do clima tropical. As únicas exceções seriam a região Sul e partes dos Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, que se encontram a sul do trópico de Capricórnio e, portanto, situam-se em em área de domínio do clima temperado.
Encontrando-se predominantemente na faixa tropical, o clima na maior parte do território brasileiro apresenta as características descritas acima como inerentes a esse domínio climático: baixa amplitude térmica anual (pouca variação de temperatura ao longo das estações) com predomínio de temperaturas elevadas ao longo do ano. Todavia, a ação de outros fatores determinantes sobre o clima, como altitude, maritimidade/continentalidade, relevo, vegetação etc. faz com seja possível identificar subtipos de clima tropical em diferentes partes de seu território.
Domínios Climáticos no Brasil. Fonte: Infoenem, Estudando os Diferentes Climas do Brasil Disponível em: https://infoenem.com.br/estudando-os-diferentes-climas-do-brasil/ Acesso em: 20 abr. 2023
O sul do Brasil, por se tratar de um trecho do território que se encontra dentro da faixa de clima temperado, é uma região que apresenta características climáticas que diferem um pouco do restante do país. Seu clima é caracterizado por apresentar estações do ano melhor definidas e uma variação de temperatura entre verão e inverno bem mais acentuada que em outras partes do país.
Em geral, na Região Sul os verões são tão quentes quanto em outras partes do Brasil, mas os invernos apresentam uma queda de temperatura bem mais acentuada que em outras regiões. No caso das serras gaúchas e catarinenses, onde a influência da altitude se soma à influência da latitude, não é rara a ocorrência de temperaturas negativas no inverno e até queda de neve.
No caso específico de partes do Sudeste Brasileiro, as elevadas altitudes também geram diferenças significativas de temperatura média, sobretudo nas áreas montanhosas entre os Estados de São Paulo, Minas Gerais e trechos das regiões serranas do Rio de Janeiro e Espírito Santo. Nessas áreas predomina o um subtipo de clima tropical denominado tropical de altitude.
Como todos os subtipos de clima tropical, essa área onde predomina o tropical de altitude também é marcada por baixa variação de temperatura ao longo do ano. Todavia, a influência da altitude faz com que as temperaturas médias em todas as estações do ano sejam mais baixas que nas demais áreas tropicais do país.
No restante do Brasil, por sua vez, o clima se difere antes pelas variações nos índices pluviométricos e a distribuição de chuvas ao longo ano que por questões térmicas, sendo todos eles marcados por apresentarem elevadas médias térmicas ao longo do ano.
No coração do Brasil, nos domínios do Cerrado, como seria de se esperar de áreas tropicais, o clima apresenta pouca variação de temperatura ao longo do ano, com médias térmicas elevadas, marcado por uma estação muito chuvosa entre os meses de outubro a março, e uma estação bastante seca, entre abril e setembro. Os índices pluviométricos são médios, mas há ocorrência de uma estação acentuadamente seca entre os meses de abril a setembro. Essa variedade de clima tropical é conhecida como tropical semiúmido ou tropical típico.
Na região Amazônica, a presença da floresta densa contribuiu para que os índices pluviométricos sejam extremamente elevados, com chuvas durante praticamente todo o ano, inexistindo uma estação propriamente seca (sem chuvas). A variação de temperatura ao longo do ano é ínfima, com médias térmicas elevadas em praticamente todos os meses do ano. Essa variação de clima tropical é conhecida como equatorial.
No Sertão Nordestino, à semelhança das demais áreas tropicais do país, a variação de temperatura ao longo do ano é bem pequena, com médias térmicas elevadas em todas as épocas do ano. Todavia, a influência do relevo sobre a circulação das massas de ar, particularmente sobre as massas que vem do oceano ( impedindo-as de levar umidade ao interior da região), faz com que os índices pluviométricos sejam muito baixos e irregulares ao longo. Essa variação de clima tropical é conhecida como tropical semiárido, em função das secas prolongadas e dos baixos índices pluviométricos anuais, à semelhança de regiões áridas.
Na extensa faixa costeira do país, que se estende desde o Nordeste até o litoral do Sudeste (o que inclui boa parte do território do Espírito Santo), há o predomínio da variante climática denominada Tropical Atlântico ou Tropical Litorâneo.
Nessa faixa climática, a variação de temperatura entre verão e inverno é pequena e os índices pluviométricos são de médios a elevados. Todavia, ela se distingue das áreas de clima tropical semiúmido justamente por conta da significativa influência das massas de ar provenientes do oceano, que fazem com que os períodos de estiagem durante a estação seca sejam mais curtos que nas áreas de clima tropical Semiúmido.
Desta forma, apesar de haver uma discrepância significativa dos índices pluviométricos ao longo do ano, não é comum a ocorrência de um grande período literalmente sem chuvas (os quais nas áreas de clima Tropical Semiúmido podem chegar a 6 meses de duração). À semelhança do que ocorre no clima tropical semiúmido, entre os meses de outubro e março ocorrem a maior parte das chuvas, concentrando-se cerca de mais de 70 por cento ou mais do volume anual de chuvas nesse período.
Todavia, diferente do clima tropical semiúmido, os meses entre abril e setembro não são meses de estiagem total, literalmente. Há ocorrência de chuvas nesse período por influência das massas de ar provenientes do oceano, sobretudo quando há ocorrência de frentes frias, mas geralmente o volume de precipitação nessa época do ano é bem menor que entre os meses de outubro a março. A recorrência de chuvas frontais e orográficas no inverno faz, portanto, com que, embora o volume de chuvas diminua drasticamente, não haja longos períodos sem precipitação.
Tipos de Precipitação
a) Ciclônica: Está associada à movimentação de massas de ar de regiões de alta pressão para regiões de baixa pressão, causada normalmente pelo aquecimento desigual, em grande escala, da superfície terrestre. Estas precipitações podem ser frontais e não-frontais.
Ciclônicas não-frontais são originadas da convergência horizontal de duas massas de ar quente para regiões de baixa pressão, culminando na ascensão vertical do ar no ponto de convergência. É o que ocorre na chamada zona de convergência intertropical (ZCIT), situada aproximadamente sobre o Equador, onde ocorre a convergência dos alísios do hemisfério sul e do norte, provocando a ascensão do ar.
As precipitações ciclônicas frontais se originam da ascensão de uma massa de ar quente sobre uma de ar frio, de características diferentes, na zona de contato entre elas. Quando a precipitação ocorre devido ao deslocamento de uma massa de ar quente por uma fria, denomina-se chuva de frente fria; se a massa de ar frio é deslocada por uma quente, é denominada de chuva de frente quente.
b) Convectiva: Na região tropical é o tipo de precipitação mais frequente. São as chamadas chuvas de verão, caracterizadas por serem de abrangência local e de intensidade variando de média a alta. O aquecimento desigual das camadas de ar resulta em uma estratificação em camadas de ar que se mantêm em equilíbrio instável. Qualquer perturbação que ocorra, como, por exemplo, uma rajada de ventos, provoca uma ascensão violenta das camadas de ar mais quentes, capaz de atingir grandes altitudes. Ao elevar-se, sofre uma rápida expansão adiabática, resfriando-se, condensando e, com os intensos movimentos turbulentos no interior da nuvem formada, devido à alta energia da parcela, a coalescência forma gotas de grande tamanho. Isto pode originar as chuvas de grande intensidade, com curta duração e pequena abrangência.
c) Orográfica: Ocorre quando uma massa de ar úmido provinda do oceano é forçada a subir a grandes altitudes por encontrar uma cadeia montanhosa (do grego Oro, “montanha”) em sua rota, sofrendo resfriamento e condensando.
Schiavetti, Alexandre Camargo, Antonio F. M. Conceitos de Bacias Hidrográficas – Teorias e Aplicações
No Espírito Santo, como mencionado acima, há a ocorrência de duas variantes de clima tropical: o Tropical de Altitude, que ocorre nas áreas de altitudes mais elevadas, situadas em sua maioria na porção central e sul do território Estadual (nas regiões Serrana e Caparaó) e o Tropical Atlântico no restante de seu território, no qual se inclui o município de Nova Venécia.
O clima em Nova Venécia, portanto, é do tipo Tropical Atlântico, sendo marcado por duas estações bem definidas: uma estação chuvosa e com temperaturas mais elevadas, entre outubro e março; e outra estação com médias térmicas um pouco menos elevadas e índices pluviométricos muito menores, mas sem longos períodos de seca propriamente (com exceção dos anos de ocorrência de El Nino).
El Niño
O El Niño é um evento que causa alterações nos padrões climáticos em diversas partes do planeta e que não apresenta um padrão de recorrência ou duração bem definidos. Sua duração, por exemplo, pode ser curta, se dissipando em alguns meses, ou longas, podendo chegar a dois ou três anos de duração. Cada ocorrência do fenômeno pode apresentar grandes diferenças quanto a esse aspecto.
Em linhas gerais, ele se inicia com o aquecimento das águas da costa Pacífica da América do Sul, mais precisamente nas águas que banham o litoral do Peru e do Chile, principalmente, onde normalmente a temperatura das áreas é baixa em função de uma corrente marítima fria.
Tal fenômeno acarreta progressivas e complexas alterações nos padrões de circulação das massas de ar em várias partes do planeta e têm deveras um impacto muito expressivo sobre os climas no território brasileiro.
Referência: TORRES, Fillipe Tamiozzo Pereira; MACHADO, Pedro José de Oliveira. Introdução à climatologia. 1. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2012. 256 p. ISBN 9788522111473 (broch.)
Segundo dados do Incaper, 2020, a média pluviométrica de Nova Venécia é de cerca de 1030 mm por ano. Cerca de 85% desse volume de chuvas ocorre entre outubro e março (ou seja, algo em torno de 870 mm) e apenas 15% ocorrem entre abril e setembro (cerca de 160mm).
CLIMOGRAMAS
Uma das maneiras de se conhecer o regime das precipitações e das temperaturas que caracterizam o clima de uma determinada localidade é por meio de um gráfico chamado climograma. Os climogramas normalmente representam a média mensal de temperatura e de precipitação de um determinado local da superfície terrestre no período de um ano. Os valores de precipitação costumam ser representados por meio de colunas verticais e a temperatura por linhas. Analisando um climograma podemos identificar, por exemplo, períodos de estiagem ou de maior concentração de chuvas, meses mais quentes ou então de temperaturas mais amenas, entre outras características.
Fonte: Zanatta, Igor Fernando Santini. Climatologia- Londrina: Editora e Distribuidora Educacional. 2016
Fonte: Climate-Data.org. Acesso: 19 abr. 2023
Em Nova Venécia, assim como em boa parte do Espírito Santo, o grande volume de chuvas no período de outubro a março está diretamente relacionado à ocorrência, nesse período, da Zona de Convergência do Atlântico Sul, fenômeno que resulta na formação dos chamados “corredores de umidade” ou “rios voadores” a partir da região amazônica, os quais levam boa parte do enorme volume de umidade da Floresta Amazônica para outras partes do Brasil sob a forma de vapor d´água. Esse processo geralmente resulta em chuvas intensas e contínuas nas áreas por onde passa esse corredor de umidade, cuja duração pode se estender por vários dias seguidos, podendo, em casos mais extremos, durar semanas inteiras.
ZONA DE CONVERGÊNCIA DO ATLÂNTICO SUL (ZCAS)
Fonte: CPTEC/INPE (http: //www.cptec.inpe.br/glossario/), adaptado.
As zonas de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) […] pode ser facilmente identificadas em imagens de satélite por meio de uma alongada distribuição de nebulosidade de orientação Noroeste para Sudeste (Figura abaixo. A ZCAS resulta da intensificação do calor e da umidade resultantes do encontro de massas de ar quentes e úmidas da Amazônia e do Atlântico Sul na porção central do Brasil.
Em geral, uma ZCAS estende-se desde o sul da região amazônica até a porção central do Atlântico Sul (MENDONÇA e DANNI-OLIVEIRA, 2007). Esta ZC é responsável pela precipitação de verão observada na região centro-sul do País, atingindo as regiões sudeste, centro-oeste, norte do Paraná e sul da Bahia.
Adaptado de TORRES, Fillipe TamiozzoPereira. Introdução à climatologia.
Já as chuvas que normalmente ocorrem em Nova Venécia e no Noroeste Capixaba no período de abril a setembro são predominantemente ciclônicas (principalmente frontais), geralmente decorrentes da ação de frentes frias e de outras massas de ar oriundas do Oceano Atlântico. O período médio de estiagem em Nova Venécia, em anos normais (fora das ocorrências do El Niño) é relativamente curto, variando entre 1 mês nos anos com estiagem mais branda a 3 meses, nos anos de estiagem mais prolongada.
A amplitude média anual (diferença média de temperatura entre o mês mais quente e o mês mais frio) em Nova Venécia é muito baixa, com variação média de apenas 5° (cinco graus) entre as temperaturas médias do auge do verão e as temperaturas médias do período mais frio do inverno.
2.2.1. Efeitos do El Niño no Norte Capixaba e em Nova Venécia: secas e calor intensos
Como já mencionado, o clima de um local é fruto da influência de fatores. E, dentre esses fatores, a circulação das massas de ar é de grande relevância.
Podemos definir as massas de ar como porções da atmosfera que ao deslocar-se geograficamente carregam consigo características de temperatura e umidade de suas respectivas regiões de origem.
Desta forma, a ocorrência periódica de chuvas ou de períodos de estiagem, de quedas acentuadas de temperatura ou de intensificação do calor nem sempre têm relação direta com as condições geográficas locais – elas podem ter sido trazidas pelas massas de ar que passam por ali.
Os verões quentes e secos que marcam o sul da Europa (Itália, Grécia, partes da França, Espanha, Portugal e dos Balcãs), por exemplo, são fruto de influência das massas de ar extremamente secas e muito quentes que originam no deserto do saara, situado do outro lado do mar mediterrâneo.
Da mesma forma, os verões úmidos que marcam a maior parte do território brasileiro se devem à influência das massas de ar provenientes da Amazônia, que tendem a se deslocar para sul no verão, por meio da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ver box sobre a ZCAS).
Durante os períodos de ocorrência do El Nino, entretanto, forma-se uma zona de alta pressão em boa parte do centro-leste do território brasileiro, bloqueando a passagem da ZCAS sobre alguns trechos do país – notadamente o Nordeste, mas também partes do Sudeste, como o Norte de Minas Gerais e boa parte do Espírito Santo, sobretudo sua porção norte, onde situa-se o município de Nova Venécia – canalizando-a quase completamente em direção à região Sul, que sofre nesses períodos com intensos volumes de chuva.
Organizado por: Gregory Pavliuki, 2023.
Desta forma, esse fenômeno bloqueia a influência que essas massas de ar amazônicas teriam sobre tais partes do território brasileiro, ocasionando períodos de estiagens prolongadas e temperaturas elevadas em tais áreas.
Foi o que ocorreu entre 2014 e 2016, anos marcados por baixíssimos índices pluviométricos em Nova Venécia e em boa parte do Espírito Santo. O prolongamento dessa estiagem por um período de quase 3 anos fez baixar significativamente o nível freático e, consequentemente, levou a uma drástica redução dos níveis de vazão de rios e córregos (alguns chegando a secar por completo, bem como as barragens situadas em seus cursos), o que trouxe grandes prejuízos à produção agropecuária e chegou a comprometer o abastecimento doméstico em algumas ocasiões.

2.3. SOLOS
Nas Geociências costuma-se definir solo como o “produto do intemperismo, do remanejamento e da reorganização das camadas superiores da crosta terrestre, sob ação da atmosfera, da hidrosfera, da biosfera e das trocas de energia envolvidas”
Solos
Os produtos friáveis e móveis formados na superfície da Terra como resultado da desagregação e decomposição das rochas pela ação do intemperismo podem não ser imediatamente erodidos e transportados pelos agentes da dinâmica externa (vento, gelo, águas) para bacias de sedimentação continentais ou marinhas (zonas deprimidas nos continentes, rios, lagos, mares e oceanos). Quando formados em regiões planas ou de relevo suave ou, ainda, quando estão protegidos por cobertura vegetal, sofrem pouco a ação da erosão, sobretudo a erosão física ou mecânica. Nesta situação, o saprolito evolui através de reorganizações estruturais efetuadas por processos pedogenéticos, dando origem aos solos.
Para um saprolito1 tornar-se um solo, é preciso, em primeiro lugar, que nesse meio a alimentação mineral dos organismos vivos autótrofos e, em particular, dos vegetais superiores, esteja assegurada. A vida necessita de água e de elementos químicos, que são encontrados no ar ou dissolvidos na água e que têm como fonte primária as rochas e, secundariamente, os tecidos orgânicos pré-existentes. Nas rochas, esses elementos estão disponíveis para os organismos em concentrações muito baixas e, nas soluções, em concentrações demasiadamente elevadas, para assegurar uma alimentação contínua e suficiente para os organismos vivos.
Neste particular, o solo desempenha um papel fundamental por se tratar de um meio intermediário entre a fase sólida (rocha) e líquida (água). No solo, essa função vital para os organismos vivos é desempenhada por uma fração organomineral denominada plasma argilo-húmico, por ser constituída pela íntima associação de argilominerais e húmus. A associação deste plasma argiloso-húmico com minerais residuais, herdados da rocha parental como, por exemplo, o quartzo, fornece a organização estrutural e textural do solo.
Em função das condições ambientais, que envolvem rocha parental, clima, organismos vivos (flora e fauna, incluindo o ser humano), relevo e tempo, os solos podem apresentar características e propriedades físicas, químicas e físico-químicas diferenciadas. Assim, os solos podem ser argilosos ou arenosos (variações texturais), podem ser vermelhos, amarelos ou cinza esbranquiçados, podem ser ricos ou pobres em matéria orgânica, podem ser espessos (algumas dezenas de metros) ou rasos (alguns pouco centímetros), podem apresentar-se homogêneos ou nitidamente diferenciados em horizontes.
TEIXEIRA, Wilson (Org.) et al. Decifrando a terra. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2000. 557 p.
1 O saprolito é um corpo geológico constituído pela mistura de minerais primários e secundários resultantes do intemperismo físico e químico, o qual mantém vestígios da estrutura original da rocha. Fonte: Guerra, 2015.
Em outras palavras, poderíamos dizer que os solos são uma camada estreita da crosta terrestre fruto de processos inter-relacionados de intemperismo e erosão das rochas, de desenvolvimento da vida e, consequentemente, de matéria orgânica. Os solos não são, por assim dizer, apenas sedimentos de rocha. Em sua composição há um vasto leque de minerais e componentes orgânicos, que incluem desde organismos ainda vivos até outros já decompostos e/ou em processo de decomposição.
Os solos são comumente classificados de acordo com suas propriedades físicas e químicas, que variam em função das diferenças entre as rochas que originaram os sedimentos; do tipo de processos de intemperismo e de erosão aos quais este substrato foi e/ou continua a ser submetido (os quais têm relação direta com o clima, sobretudo em função da variação e distribuição da precipitação – seja sob a forma de chuva, neve, derretimento de geleiras etc.); e o tipo de vida que ali se desenvolveu ( ou seja, os diferentes biomas e suas peculiaridades ecológicas e orgânicas).
Tais características físico-químicas têm implicações diretas sobre a forma como esse solo pode ser utilizado pelos seres humanos para fins diversos, desde a prática agrícola até a construção civil, sendo um fator importante sobre o desenvolvimento da vida e das atividades econômicas em uma determinada localidade ou região.
Horizontes do solo
Praticamente todo processo de identificação e classificação dos solos inicia-se no campo, através de cuidadoso exame morfológico do perfil. Em geral são observados os seguintes itens: concreções, nódulos, plintita, petroplintita, porosidade (macro), linha úmida, molhada), cerosidade, espessura e transição entre horizontes, de seixos, minerais primários (lupa), presença de carbonatos (HCI), presença de sais (eflorescência, percepção gustativa), sulfetos (jarosita, odor), pH de campo, coloração de indicadores químicos (a, a-dipiridil ou ferricianeto de potássio). Alguns dos itens anteriores (granulometria, concreções, plintita…) são também quantificados (estimativa).
Com base na presença ou ausência e no grau de expressão dos itens acima, o pedólogo, no campo, separa as várias seções (horizontes/camadas) componentes do perfil do solo, coletando amostras para análises laboratoriais.
O: horizonte ou camada superficial de constituição orgânica pouco ou nada decomposta, formado em condições de drenagem livre, mas super úmidas, de determinados solos minerais ou orgânicos de regiões altimontanas, sendo por isso mais comum nas regiões serranas dos Estados sulinos.
A: horizonte mineral, superficial ou em sequência ao horizonte O, resultante de atividade biológica relativamente intensa, apresentando concentração de matéria orgânica decomposta e perda ou decomposição de componentes minerais. Presente em todos os solos, a menos que tenha sido eliminado pela erosão.
B: horizonte mineral subjacente ao horizonte A, comparativamente bastante afetado por transformações pedogenéticas, em que pouco ou nada resta da estrutura da rocha original e, mesmo quando remanescentes dessa estrutura estejam bem evidentes, prevalece expressão de alteração do material parental, com conseqüente neoformação de argilas silicatadas e produção de óxidos; desenvolvimento de novas cores; formação de estrutura em conjugação ou não com acumulação iluvial de argila silicatada, óxidos, hidróxidos e oxi-hidróxidos de alumínio e ferro, matéria orgânica, de per si ou em combinações.
C: horizonte ou camada mineral sob o solum, relativamente pouco afetado pelos processos pedogenéticos a partir dos quais o solum pode ou não ter se formado e sem ou com pouca expressão de propriedades identificadoras dos horizontes anteriormente citados. Solos formados in situ, isto é, originados da rocha subjacente, são denominados autóctones. Nas regiões tropicais, inclusive no Brasil, são bastante comuns os solos alóctones, isto é, aqueles que apresentam parte de seu perfil desenvolvido em material distinto da rocha subjacente, provenientes de retrabalhamentos de curta ou longa distância.
R: rocha mãe; camada mineral de material consolidado, de tal modo coeso que, quando úmido, não pode ser cortado com uma pá e constitui substrato rochoso contínuo ou praticamente contínuo, a não ser pelas poucas e estreitas fendas que pode apresentar. A rigor, essa camada não faz parte do solo, pois constitui o substrato rochoso praticamente não-intemperizado.
Adaptado de João Bertoldo de Oliveira. Pedologia Aplicada.

Processo de diferenciação dos horizontes.
Fonte: Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada (CEPA)
No território do município de Nova Venécia, há uma vasta prevalência de latossolos. As exceções são os curtos trechos dos fundos e vertentes dos vales dos principais cursos d’água, onde predominam argissolos, e as áreas imediatamente no entorno de afloramentos rochosos, nas quais há predomínio de neossolos litólicos.
Organizado por: Gregory Pavliuki, 2023.
Os latossolos são solos típicos de áreas de clima tropical, ou seja, de ambientes quentes e úmidos, ocorrendo em áreas com relevo mais suave e ondulado. São o tipo predominante de solo no território brasileiro.
São solos muito intemperizados e com pouca distinção entre os horizontes. Exatamente em função do forte intemperismo ao qual foram submetidos ao longo do tempo, apresentam um horizonte A estreito e um horizonte B bem espesso, sendo geralmente pobres em nutrientes vegetais.
Podem, entretanto, ser bastante produtivos para a agropecuária. Todavia, a obtenção de uma boa produtividade geralmente demanda o uso de técnicas adequadas de manejo, o que inclui correção de acidez e adubação (não costumam ser naturalmente férteis, por assim dizer).
Geralmente esses solos apresentam boa permeabilidade e baixa suscetibilidade à erosão hídrica, aspectos que facilitam seu manejo também para outros fins além da agropecuária, como a construção de estradas, por exemplo.
Os argissolos são o segundo tipo de solo predominante no território brasileiro e também o segundo tipo mais recorrente em Nova Venécia. A área ocupada por eles é menor apenas que a área ocupada pelos latossolos. Sua ocorrência geralmente está associada aos latossolos, haja vista ambos serem solos típicos de regiões de clima quente e úmido, e tais quais os latossolos, também são um tipo de solo bastante intemperizado.
São uma categoria bastante heterogênea de solos, mas que tem como característica comum uma distinção mais clara entre os horizontes A e B (quando comparados aos latossolos), sobretudo em virtude da mudança textural acentuada entre eles, com um marcante tendência ao aumento da concentração de argila ao longo do Horizonte B.
Diferentemente dos latossolos, os argissolos também se desenvolvem em ambientes montanhosos, com declividade mais acentuada e são bastante suscetíveis à erosão, o que torna seu manejo para as práticas agropecuárias mais complexo, já que além de correção e adubação também requer maior cuidado com técnicas de conservação.
Em Nova Venécia os argissolos ocorrem principalmente no fundo e vertentes dos vales dos principais cursos d’água que cortam o município.
Os neossolos litólicos, por sua vez, ocorrem no entorno dos afloramentos rochosos, que estão mais presentes na porção sul do município de Nova Venécia (nos domínios dos Patamares com Afloramentos Rochosos), onde o substrato geológico é de origem cristalina. São solos extremamente rasos, com ausência de um Horizonte B e um horizonte A bem estreito (em geral com menos de 20 cm de espessura) que costumam se assentar sobre um horizonte C pouco transformado ou diretamente sobre a rocha matriz.
Em Nova Venécia, especificamente, tais características estão associadas à alta declividade das áreas em que ocorrem esse tipo de solo (no entorno de afloramentos rochosos), que dificulta o acúmulo de sedimentos e matéria orgânica, além de ser adverso ao próprio intemperismo e transformação da rocha matriz, não corroborando os processos pedogenéticos.
Tais características o tornam pouco favorável à prática agropecuária, já que sua capacidade de reter água e nutrientes é muito restrita e inexiste espaço para o próprio desenvolvimento do sistema de raízes de vegetais que não sejam de pequeno porte.
2.4. BIOMAS
O tipo de vida animal e vegetal que se desenvolve em um determinado recorte geográfico está intimamente relacionado a outros fatores naturais, como aspectos pedológicos, geomorfológicos e climáticos do local ou região. Este último aspecto (climático), entretanto, tende a ser preponderante quanto às características do bioma que predomina sobre um determinado recorte espacial.
Verifica-se uma forte tendência a cada domínio climático distinto coincidir com a ocorrência de um determinado bioma, com características morfológicas e fisiológicas peculiares. O território brasileiro nos fornece bons exemplos de tal fato:
– A Floresta Amazônica ocorre em áreas de clima equatorial, onde é extremamente quente e úmido o ano inteiro e praticamente não há estação seca;
– O Cerrado (que é uma variante das Savanas) ocorre no alto do Planalto Central Brasileiro, em áreas onde predomina o clima tropical semiúmido, que apresenta alternância entre uma estação chuvosa e uma estação bastante seca;
– A Caatinga ocorre nos domínios de clima tropical semiárido, onde as médias pluviométricas anuais são baixas e as chuvas são mal distribuídas ao longo do ano (resultando em longos períodos de estiagem);
– Os pampas ocorrem em áreas de clima subtropical (também chamado de temperado quente) no sul do país, onde há a ocorrência de quatro estações melhor definidas e uma maior variação de temperatura entre os extremos no ano (verão e inverno);
– A Mata Atlântica ocorre ao longo da costa brasileira, onde predominam os climas Tropical Atlântico e Tropical de Altitude, nos quais embora haja uma concentração de chuvas entre outubro e março, não há estiagens mais prolongadas no período entre abril e setembro.
A explicação para tal fato não é complexa. O clima é o principal fator a determinar a disponibilidade de água e radiação solar, elementos fundamentais para que as espécies vegetais possam se desenvolver. Tal fator, somado às características dos solos, relevo e hidrografia regionais, tende a criar uma combinação singular de vetores naturais que irão condicionar o desenvolvimento biótico dentro daquele recorte regional ou local.
Desta forma, por conta do processo evolutivo, a fisiologia das espécies vegetais tende a se mostrar adaptada às características climáticas locais. Da mesma forma, os hábitos e fisiologia dos animais que ali vivem tendem a ser bem adaptados ao clima e às fontes de biomassa disponíveis (outras espécies animais e vegetais situados em níveis tróficos mais baixos da cadeia alimentar).
A TEORIA DA EVOLUÇÃO DAS ESPÉCIES […] Darwin não foi o primeiro a propor que os organismos seriam correlacionados entre si por mudanças evolutivas. Sua principal inovação foi deduzir um mecanismo através do qual tais mudanças pudessem acontecer. A explicação que ele publicou em 1859 foi rapidamente aceita e hoje é uma parte filosófica básica da ciência biológica. Darwin percebeu que qualquer par de animais ou plantas produz descendentes além do que seria necessário para simplesmente repor aquele par. Assim, deve existir a competição pela sobrevivência entre os descendentes. Mais ainda, esses descendentes não são idênticos uns aos outros, variando levemente em suas características. Inevitavelmente, algumas dessas variações se mostrarão mais bem ajustadas ao modo de vida dos organismos do que outras. Os descendentes que possuírem essas características favoráveis terão assim uma vantagem natural na competição pela vida e tenderão a sobreviver à custa de seus parentes menos afortunados. Por meio de sua sobrevivência e eventual acasalamento, esse processo de seleção natural proporcionará a manutenção dessas características favoráveis às novas gerações. Cox, C. Barry. Biogeografia: uma abordagem ecológica e evolutiva. |
CADEIA ALIMENTAR
Segundo Daniel Cruz (2004, p. 21), cadeia alimentar “é uma sequência de relações alimentares, com a transferência de energia através da matéria ingerida”. Portanto, o nome cadeia alimentar diz respeito a uma sequência de busca de alimentos, ou seja, um primeiro ser vivo serve de alimento para um segundo que, ao mesmo tempo que se alimenta do primeiro, pode servir de alimento para um terceiro ser vivo.
2.1.1 Elementos presentes nas cadeias alimentares
O hábito de nutrição de um ser vivo corresponde ao seu nível trófico. Para entender, pense sobre os níveis tróficos da seguinte cadeia alimentar:
planta → inseto → sapo → cobra → gavião
Os vegetais (a planta) estão no primeiro nível trófico e, por isso, são chamados de produtores, pois produzem alimento, matéria e energia a partir da luz do Sol.
Todos os seres que não produzem o seu alimento através da fotossíntese se nutrem de outros seres vivos. São chamados de heterótrofos e são denominados de consumidores.
Os primeiros consumidores da cadeia alimentar são chamados consumidores primários; os segundos, consumidores secundários, e assim sucessivamente. Além dos produtores (aqueles que fazem fotossíntese) e os consumidores (que se alimentam de outros seres vivos), há ainda outro nível trófico, dos decompositores, que devolvem para o ambiente a matéria inorgânica que se encontrava nos restos de seres vivos (matéria orgânica), permitindo que os produtores absorvam essas substâncias para que possam produzir os alimentos.
Soares, Jorge Mendes. Ciências : Ensino Fundamental II
Os vegetais, portanto, enquanto organismos fotossintetizantes (ou seja, capazes de converter a energia da radiação solar em biomassa), tendem a constituir a base de praticamente qualquer cadeia alimentar, condicionando assim a ocorrência de outras formas de vida, como as diferentes espécies de animais ou mesmo de outros tipos de vegetais que eventualmente dependam do ambiente e/ou microclima propiciado por espécies pioneiras e/ou de maior porte.
Quanto a esse último aspecto, é importante ressaltar que a vegetação nativa de um bioma, ao mesmo tempo em que é condicionada pelas características do clima local/regional, é também um dos fatores que corroboram essas características climáticas, o que explica porque os efeitos do desmatamento geralmente têm repercussões para além da fauna e flora do local ou região onde ocorreu sua destruição.
EFEITO DA VEGETAÇÃO SOBRE O CLIMA A presença de formações florestais densas, por exemplo, tem deveras uma forte influência sobre a manutenção da umidade do ar. A transpiração dos vegetais, ao aumentar a umidade relativa do ar, contribui não apenas para a ocorrência de chuvas convectivas, mas para o predomínio de índices de pressão atmosférica mais baixos, o que tende a fazer com que outras massas de ar se desloquem para lá, ampliando ainda mais a umidade e retroalimentando esse mecanismo. É o que ocorre na região Amazônica, cuja destruição da floresta, se continuar a ocorrer, tende a afetar o clima não apenas nessa região, mas em praticamente todas as partes do Brasil e da América do Sul. |
Nas áreas do território brasileiro onde predomina o clima Tropical Atlântico, como é o caso do Espírito Santo, o bioma predominante é a Mata Atlântica, que ocorre em praticamente todas as áreas planas do litoral e nas encostas da chamada Serra do Mar (uma cadeia montanhosa que se estende por praticamente toda a costa brasileira, que em alguns trechos ocorre mais rente ao litoral, em outros ocorre um pouco mais reentrada no continente).
Os manguezais e vegetação de restinga, tão recorrentes no litoral brasileiro e no Espírito Santo, são normalmente considerados ecossistemas inerentes aos domínios de Mata Atlântica. As diferenças morfológicas e fisiológicas desses ecossistemas remontam às características do substrato – cordões arenosos, no caso da vegetação de restinga, e áreas também arenosas, mas alagadas e com forte influência das águas salgadas dos oceanos e mares, no caso dos manguezais.
LOCALIZAÇÃO E EXTENSÃO DA MATA ATLÂNTICA
Fonte: DMA – Conceitos e Abrangência. RBMA Disponível em: http://www.rbma.org.br/anuario/mata_02_dma.asp
No vasto território intertropical e subtropical brasileiro destaca-se o contínuo norte-sul das matas atlânticas, na categoria de segundo grande complexo de florestas tropicais biodiversas brasileiras. Em sua estrutura espacial primária, as florestas atlânticas abrangiam aproximadamente um milhão de quilômetros quadrados. Ou seja, um quarto ocupado pelas matas densas da Amazônia brasileira, que possuía uma posição marcadamente zonal situadas em baixas latitudes equatoriais. Em oposição, as matas atlânticas possuem um eixo longitudinal norte- nordeste e um sul- sudoeste que lhes imprimem um caráter sazonal, ao que apresenta notáveis diferenças morfológicas e topográficas entre duas grandes áreas de floresta tropical úmida do território brasileiro.
Aziz Ab´Saber. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas.
A Mata Atlântica é um bioma bastante destruído, sobretudo em função do histórico da colonização brasileira, que se iniciou pelo litoral, onde as principais atividades econômicas foram desenvolvidas desde os primórdios das invasões europeias ao continente Americano.
Historicamente, o domínio da Mata Atlântica foi o palco de atividades que foram o eixo da economia brasileira, como a produção de cana-de-açúcar e café. Mais recentemente, no século XX, atividades como a criação de gado, silvicultura e fruticultura também corroboraram a destruição desse bioma. A urbanização e atividade industrial do Brasil também tendem historicamente a se concentrar nas áreas de ocorrência de Mata Atlântica, potencializando sua destruição. Hoje, as estatísticas mais otimistas estimam restar apenas algo em torno de 10% a 15% de sua cobertura original.
Pelas mesmas razões que no restante do Brasil, a maior parte da Mata Atlântica em território capixaba já foi destruída. Estima-se que pouco mais de 20% de sua área original ainda esteja ocupada pelas florestas. Todavia, o percentual de áreas realmente preservadas é ainda menor, haja vista boa parte dessas áreas contabilizadas como remanescentes já terem sido degradadas em algum momento, mas encontram-se atualmente em estágio de regeneração.
Mata Atlântica no Espírito Santo Antes de o Espírito Santo enfrentar expressivo aumento populacional, seu território era praticamente formado por uma densa floresta, conhecida como Mata Atlântica. Esta formação vegetal caracteriza-se por possuir árvores altas cujas copas se unem e estão constantemente verdes. Atualmente, grande parte dessa vegetação já desapareceu. As causas são várias, desde as derrubadas feitas pelo homem a fim de se apropriar da madeira, até o cultivo de monoculturas e a criação de gado. Os resquícios estão espalhados pelo estado e têm sido preservados graças à nova consciência de preservação. Atualmente, o restante de Mata Atlântica soma 6% da floresta original [no Espírito Santo]. (ESPÍRITO SANTO. Atlas Histórico-Geográfico do Espírito Santo). ![]() Fonte: ESPÍRITO SANTO. Atlas Histórico-Geográfico do Espírito Santo). |
Em Nova Venécia, especificamente, estima-se que existam hoje pouco mais de 5.300 hectares de Mata Atlântica preservada, grande parte dos quais (mais de 2.500 hectares) encontram-se na Área de Preservação Ambiental da Pedra do Elefante e em seu entorno (INCAPER, 2020),.
Segundo dados do IEMA (2016), os trechos de mata nativa ocupam pouco mais de 9% do território municipal em Nova Venécia, e as áreas em estágio de regeneração contabilizam pouco mais de 6% da área do município, distribuídos de forma descontínua por seu território.
Somados, portanto, os trechos onde ainda existem matas preservadas ou em regeneração, tem-se que apenas cerca de 15% do território de Nova Venécia ainda tenha alguma cobertura florestal desse bioma, que foi destruído ao longo da história do município para dar lugar principalmente a lavouras de café e pastagens para criação de gado.
Criação da APA Pedra do Elefante Como ficou registrado na tradição local, o próprio Barão de Aymorés a avistava lá da Cachoeiro do Cravo e desejava implantar aos seus pés uma fazenda para o cultivo de café, dotando-a de uma luxuosa sede, um casarão com quase cem metros de comprimento. Berço da colonização da cidade, essa pedra, bem como toda a formação rochosa ao seu redor, viu aqui se misturarem os índios, os africanos e os europeus e testemunhou o início de Nova Venécia. ![]() Apesar de a situação ter sido considerada grave, o Conselho Estadual de Cultura em reunião plenária sob presidência de Wilson Haese, com base no discriminado pelo parecer da Câmara de Artes e Patrimônio Histórico, emitiu a Resolução N° 04/84 de 30 de agosto de 1984 que aprovou o “Tombamento” em caráter definitivo do Monumento Natural denominado “Pedra do Elefante” ou “Três Montanhas”. Mas somente na quarta-feira 12 de setembro de 1984 a resolução tornou-se pública e em vigor na página 11 do Diário Oficial do Espírito Santo. Um ano depois do tombamento, em 1985, a situação não se resolveu, pois a empresa alegava não encontrar pedra para substituí-la, e nem tinha como arcar com os custos da mudança de maquinário. O proprietário do terreno também não cedia à proposta de indenização ou autorização de extração de outra pedra em sua propriedade. Somente em 2001 se efetivou a criação da Área de Proteção Ambiental (APA) da Pedra do Elefante. Com a presença do Governador do Estado José Inácio Ferreira, do Secretário de Estado para Assuntos do Meio Ambiente, Almir Bressan, e do Secretário de Estado para a Agricultura, Marcelino Fraga, foi assinado o decreto da criação de Unidade de Conservação. Esse documento transformou a Pedra do Elefante em Área de Proteção Ambiental. Izabel Maria da Penha Piva; Rogério Frigerio Piva. À sombra do elefante: a área de proteção ambiental da Pedra do Elefante como guardiã da história e da cultura de Nova Venécia-ES |
Como um bioma típico de áreas tropicais úmidas, a Mata Atlântica é composta predominantemente por espécies ombrófilas (adaptadas à alta umidade), com uma morfologia estratificada (possui espécies de variados portes), formações florestais densas com espécies latifoliadas (folhas largas), corroborando a ocorrência de sub-bosques nos quais a radiação solar não incide diretamente sobre o solo, formando um microclima diferenciado, ainda mais úmido no interior da mata.
Exemplo de paisagem do bioma Mata Atlântica em Nova Venécia, na APA da Pedra do Elefante. Fotografia: Danielhe Meireles.
2.5. HIDROGRAFIA
Quando falamos de hidrografia estamos a tratar de aspectos inerentes ao ciclo da água em um determinado local ou região. A água fruto da precipitação (sob a forma de chuvas, neve ou granizo) cairá sobre a superfície daquele local e a forma como se comporta a partir daí dependerá de uma série de outros fatores, como relevo, maior ou menor presença de vegetação, etc.
Parte dela tenderá a escorrer para os rios e lagos e outra parte se infiltrará no solo, podendo assim alimentar aquíferos e lençóis freáticos. Os aquíferos são formados por camadas de rochas com grande porosidade, onde essa água pode se acumular. Os lençóis freáticos são, por assim dizer, uma camada do subsolo “encharcada” d´água que acaba por funcionar como um reservatório subterrâneo, que tem papel fundamental em alimentar os rios e demais cursos d’água no período da estiagem, tornando-os perenes (se não houvesse esse reservatório subterrâneo, todos os rios e córregos tenderiam a desaparecer quando as chuvas cessarem).
A proporção entre o volume de água escoado e o volume d´água infiltrado depende de vários fatores, os quais vão desde o volume, intensidade e velocidade dos processos de precipitação, até as características do relevo, dos solos e, sobretudo, da maior ou menor presença de vegetação e formações florestais. Por tal razão, a produção agropecuária e a urbanização tendem a ser fatores que podem acarretar forte desequilíbrio hídrico em um local ou região, como será discutido posteriormente.
Para se compreender essas dinâmicas hidrológicas, tanto em seus aspectos propriamente naturais quanto os impactos causados pela interferência humana, o conceito de bacia hidrográfica é fundamental.
Podemos definir uma bacia hidrográfica como um recorte espacial em que toda a água oriunda da precipitação (seja chuva, neve ou granizo) é canalizada para um destino comum, seja escoando pela superfície até um rio ou lago, ou por meio do processo de infiltração, abastecendo o lençol freático que alimenta esses rios e lagos dentro daquele recorte espacial.
Geralmente uma bacia hidrográfica consiste em um vale por onde passa um curso d’água (rio ou córrego), o qual, a depender de sua extensão, pode receber as águas de outros rios e córregos secundários, geralmente com menor vazão, chamados de afluentes.
As unidades de relevo que delimitam as bacias hidrográficas são denominadas divisores de água. Para fins de localização dentro da área de um vale, dizemos que a direção da nascente é a montante do vale e a direção da foz é a jusante.![]() Fonte: Adaptado de http://www.cuidedosrios.eco.br/bacia-hidrografica/ |
Em geral, com exceção do Rio Doce, cuja bacia hidrográfica é relativamente extensa e seu curso principal apresenta grande vazão e atravessa trechos extensos de relevo com declividades mais suaves, a maior parte das bacias hidrográficas que ocorrem no território capixaba é de curta extensão, com seus cursos d’água principais nascendo dentro do próprio território capixaba ou em áreas fronteiriças de Minas Gerais, atravessando predominantemente áreas de relevo acidentado, com significativa declividade.
A maior parte do território de Nova Venécia encontra-se dentro da bacia hidrográfica do Rio São Mateus, que deságua no Oceano Atlântico. A exceção é um curto trecho a Sudeste do município, na divisa com o município de São Gabriel da Palha, que se encontra na bacia hidrográfica do Rio São José (um afluente do Rio Doce), o qual deságua na Lagoa Juparanã.
Fonte: IEMA; Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Bacias Hidrográficas do Espírito Santo, 2013 Acesso: 27. abr. 2023
A compreensão dos fenômenos hidrológicos em Nova Venécia demanda, portanto, um entendimento não apenas do que ocorre literalmente dentro do território municipal veneciano, mas principalmente um entendimento das dinâmicas e processos dentro de toda a área da Bacia Hidrográfica do Rio São Mateus (a qual se estende para além das fronteiras capixabas, haja vista as nascentes desse curso d’água se situarem no leste de Minas Gerais) e também (em menor intensidade) da Bacia Hidrográfica do Rio São José.
ESPÍRITO SANTO. Manual Operativo do Plano de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio São Mateus. Acessado em: 27 abr 2023 Disponível em: https://agerh.es.gov.br/Media/agerh/Documenta%C3%A7%C3%A3o%20CBHs/S%C3%A3o%20Mateus/Plano%20de%20Bacia/Relat%C3%B3rio%20Etapa%20C%20-%20Manual%20Operativo%20-%20CBH%20S%C3%A3o%20Mateus.pdf
Organizado por: Gregory Pavliuki, 2023.
A BACIA DO RIO SÃO MATEUS A porção capixaba da bacia hidrográfica do Rio São Mateus está localizada na região norte do Estado do Espírito Santo. Possui uma área de drenagem aproximada de 8.237 km² e abrange 11 municípios capixabas: Água Doce do Norte, Barra de São Francisco, Ecoporanga e Vila Pavão, em sua totalidade, e parte dos municípios de Boa Esperança, Conceição da Barra, Jaguaré, Mantenópolis, Nova Venécia, Ponto Belo e São Mateus. A bacia soma uma população, estimada por projeção, de cerca de 342.227 habitantes para o ano de 2017. Os limites físicos da Bacia ocorrem ao norte com a Bacia Hidrográfica do Rio Mucuri, a nordeste com a Bacia Hidrográfica do Rio Itaúnas, a sudoeste com a bacia hidrográfica do Rio Doce e a leste com o Oceano Atlântico. Os principais afluentes da Bacia Hidrográfica do Rio São Mateus são: o Rio São Mateus, cujas nascentes estão localizadas em Minas Gerais, formado por dois braços principais: o rio Cotaxé (braço Norte), que nasce no município de Itambacuri (MG), e o rio Cricaré (braço Sul), que nasce no município de São Félix de Minas (MG). Esse rio direciona-se para o norte e ao chegar na cidade de São Mateus juntou-se ao rio Cricaré, dando origem ao rio São Mateus . O rio São Mateus é a junção dos dois rios, e deságua no oceano Atlântico no município de Conceição da Barra. Fonte: AGERH (Agência Estadual de Recursos Hídricos). https://agerh.es.gov.br/cbh-sao-mateus. |
A maior parte do território veneciano está, portanto, no médio curso da Bacia do Rio São Mateus. O braço sul desse curso d’água (Rio Cricaré) atravessa o centro da área urbana do município, sendo a principal fonte de água para abastecimento urbano na cidade, além de cartão postal do município.
Pôr do sol na passarela Giuseppe Dall’orto à esquerda, visto da segunda ponteAfonso Cremasco (à direita).
Os locais onde se situam as nascentes do Rio São Mateus, na fronteira entre Minas Gerais e Espírito Santo, como é recorrente em trechos a montante de uma bacia hidrográfica, são áreas de altitude mais elevada e relevo bastante acidentado, com declividades acentuadas. Isso tende a fazer com que as águas do rio tenham muita energia e grande potencial erosivo e de transporte de sedimentos, com formação de muitas cachoeiras.
Os trechos mais a jusante, pelo contrário, cortam áreas mais planas, com declividades mais suaves. Suas águas perdem energia e progressivamente também perdem capacidade de transporte de sedimentos, dando início a processos de deposição desses sedimentos, que se evidenciam na formação de meandros.
O território de Nova Venécia situa-se, portanto, em um trecho de transição da bacia, no médio curso de seu vale. Nesse trecho, o rio principal ainda apresenta declividade e energia bem superiores ao baixo trecho da bacia (que ocorre já em território do município de São Mateus), mas claramente inferiores à sua montante, na fronteira entre os Estados.
Organizado por: Gregory Pavliuki, 2023.
Organizado por: Gregory Pavliuki, 2023.
Organizado por: Gregory Pavliuki, 2023.
Organizado por: Gregory Pavliuki, 2023.
Desta forma, quanto mais próximo estamos da divisa com os municípios de Águia Branca e Barra de São Francisco, em função das características geomorfológicas dessa área, maior tende a ser a declividade do terreno e mais forte tende a ser a energia das águas e a ocorrência de cachoeiras na bacia do São Mateus. E quanto mais nos aproximamos da divisa com o município de São Mateus, mais as declividades se suavizam e as águas do curso principal dessa bacia hidrográfica perdem forças, o que gradativamente vai evidenciando seu caráter meandante.
2.6 REFERÊNCIAS
AB’SABER, Aziz Nacib; BRASIL – PAISAGENS. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. 6. ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2010. 159 p
Ferrovia São Mateus x Nova Venécia. Projeto Cricaré. 2018. Disponível em: https://projetocricare.blogspot.com/2018/01/no-dia-23-de-maio-de-1895-foi-celebrado.html. Acesso em: 12 de abr. 2023.
ALMEIDA, Hermes Alves de. Climatologia aplicada à geografia. Campina Grande: EdUEPB, 2016. 330 p.
BACK, Á.J. Bacias hidrográficas: classificação e caracterização física (com o programa HidroBacias para cálculos). Florianópolis: Epagri, 2014, 162p.
BRASIL, Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. Comitês de Bacia Hidrográfica Disponível em: https://www.gov.br/ana/pt-br/assuntos/gestao-das-aguas/fortalecimento-dos-entes-do-singreh/comites-de-bacia-hidrografica/comites-estaduais/es Acesso em: 5 abr. 2023.
BRASIL, Ministério do Meio Ambiente. Mata Atlântica: patrimônio nacional dos brasileiros. Secretaria de Biodiversidade e Florestas. Núcleo Mata Atlântica e Pampa; organizadores Maura Campanili Wigold Bertoldo Schaffer. –Brasília: MMA, 2010. 408 p.
COELHO, A.L.N; Goulart, A.C.O; Bergamaschi, R.B. Mapeamento geomorfológico do estado do Espírito Santo. SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOMORFOLOGIA, 9., 2012, Rio de Janeiro, RJ. Anais… Rio de Janeiro:XI SINAGEO, 2012.p. 42.
COUTINHO, Leopoldo Magno. Biomas brasileiros. São Paulo: Oficina de Textos, 2016. 128 p.
ESPÍRITO SANTO. Secretária de Estado do Planejamento – SEPLAN. Zonas Naturais do Espírito Santo: uma regionalização do Estado, das microrregiões e dos municípios. Espírito Santo: SEPLAN, 1999. Disponível em: https://meteorologia.incaper.es.gov.br/Media/Hidrometeorologia/documentos/clima-dos-municipios.pdf#page=30 acesso em: 5 abr. 2023.
FIGUEIRÓ, Adriano. Biogeografia: dinâmicas e transformações da natureza. São Paulo: Oficina de textos, 2015. 400 p.hb
GIESBRECHT, Ralph Mennucci. Nova Venécia Município de Nova Venécia, ES. Estações Ferroviárias do Brasil. Disponível em: http://www.estacoesferroviarias.com.br/es_outras/novavenecia.htm Acesso em: 12 de abr. 2023.
Guerra, Adriano Ribeiro. Saprolitos na região sudeste do Brasil: morfologia, classificação e evolução física, geoquímica e mineralógica. Piracicaba, 2015, 256p.
INCAPER, Instituto capixaba de pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural. Programa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Proater), Nova Venécia, 2020. Disponível em: https://incaper.es.gov.br/media/incaper/proater/municipios/Nova_Venecia.pdf acesso em: 5 abr. 2023.
MURARI, Jonas Braz; FERREIRA, Renata Diniz; VALE, Cláudia Câmara do; SANTOS, Ezequiel Sampaio dos. História, geografia e organização social e política do município de Nova Venécia. Nova Venécia: editora Brasília, 1992. 92 p.
OLIVEIRA, João Bertoldo de. Pedologia aplicada. 3. ed. Piracicaba: FEALQ, 2008. 592 p
PEIXOTO, Ariane Luna; LUZ José Roberto Pujol; BRITO, Marcia Aparecida de. Conhecendo a biodiversidade. Brasília: MCTIC, CNPq, PPBio, 2016. 196 p.
PIVA, Izabel Maria da Penha; PIVA, Rogério Frigerio. À sombra do elefante: a área de proteção ambiental da Pedra do Elefante como guardiã da história e da cultura de Nova Venécia-ES. 1. ed. Nova Venécia: Autor, 2014. 200 p.
PIVA, Izabel Maria da Penha; PIVA, Rogério Frigerio. Estrada de Ferro São Matheus (EFSM): A ferrovia que entre 1929 e 1942 ligou a outrora vila de Nova Venécia ao mundo. Site Barra. 2021. Disponível em: https://sitebarra.com.br/v7/estrada-de-ferro-sao-matheus-efsm-a-ferrovia-que-entre-1929-e-1942-ligou-a-outrora-vila-de-nova-venecia-ao-mundo.html Acesso em: 12 de abr. 2023.
Por causa da seca, Nova Venécia (ES) decreta Situação de Emergência. CNM, Confederação Nacional dos Municípios. 29 de mar. 2015. Disponível em: https://www.cnm.org.br/comunicacao/noticias/por-causa-da-seca-nova-venecia-es-decreta-situacao-de-emergencia Acesso em: 30 de ago. 2023.
SERVIÇO GEOLÓGICO DO BRASIL – CPRM. Programa de Geologia do Brasil. Geologia e recursos minerais da folha de Nova Venécia. Belo Horizonte: Serviço geológico do Brasil – CPRM. 2012.
TORRES, Fillipe Tamiozzo Pereira; MACHADO, Pedro José de Oliveira. Introdução à climatologia. 1. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2012. 256 p.
TORRES, Fillipe Tamiozzo Pereira; MARQUES NETO, Roberto; MENEZES, Sebastião de Oliveira. Introdução a geomorfologia. São Paulo: Cengage Learning, 2013. 322 p.